Ainda ontem passei por lá, da rua pude ver a sala de aula, que naquele horário estava vazia.
De um modo estranho todos os momentos daquela primeira aula como professor contratado vieram a tona.
Naquela aula, os quatro anos de faculdade resumiram-se ao tempo de uma pergunta, feita por uma menina da quinta série, que por mais que eu tente não consigo lembrar do seu rosto.
- “Se as nuvens são compostas por vapor d’água e a água de chuva é limpa, por que as nuvens de chuva são escuras?”
Naquele momento o frio que subia pelas vértebras só foi acalentado pela sirene marcando o fim da aula. Era como se eu tivesse sido salvo pelo gongo no último assalto da luta.
A resposta veio pronta:
- “Na próxima aula te digo.”
Mais que responder a questão, pensei em como fazê-la de modo prático e convincente, e mesmo antes que eu me sentasse para fazer a chamada na outra turma, quando pedi para um aluno fechar a cortina da janela, que por sinal era branca.
“Bingo!”
“Bingo!”
Ora as nuvens de chuva geralmente são escuras por conta de sua grande espessura. Essa espessura impede a passagem da luz o que acarreta a sombra.
Na aula seguinte subi em cima da mesa do professor e com algumas folhas de papel branco, encobrindo a lâmpada da sala fui intercalando uma após a outra até que o papel em sua porção inferior ficasse escuro.
As vezes me pergunto como eu teria feito se o sinal não houvesse tocado.
Provavelmente diria que a luz não consegue atingir toda nuvem por conta de sua espessura. Mas e ai? Teria sido convincente?